terça-feira, 25 de junho de 2013

Para onde se movimenta o Movimento?

Essa reflexão é de alguém que vem participando das manifestações em Porto Alegre, que começaram contra o aumento das tarifas de transportes públicos, e, hoje, tem reivindicações variadas. Além da disputa pela “paternidade” do movimento por setores, digamos, distintos da política brasileira. Se por um lado, a multipluralidade de pautas e a ausência de uma liderança nos movimentos representa a possibilidade de uma relação horizontal entre os sujeitos; por outro, a falta de direcionamentos aponta para o risco de causas conservadoras se tornarem as principais do movimento agora sem nome. Algo que me preocupa em relação ao movimento é o nacionalismo, um pouco exacerbado, proposto por boa parte dos manifestantes. Ideias ufanistas nunca terminaram bem em terras tupiniquins, historicamente falando. Particularmente, concordo com um comentário visto na internet que o “hino é um instrumento que forja uma falsa unidade nacional”. É válido lembrar que ter o povo na rua nem sempre é sinal de mudança popular. Em 1964, a elite conservadora tremeu com a “ameaça comunista” (ainda com Jango no poder), que representava, na verdade, uma “ameaça” à propriedade privada e foram às ruas, em meio milhão de pessoas, com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Dias depois, instaurada a Ditadura Militar, um milhão de pessoas marcaram presença na Marcha da Vitória, comemorando o início de duas das piores décadas que já vivemos. Outra coisa que me assusta é a tentativa de incorporar o movimento por parte da mídia, tradicionalmente de direita. E a tentativa de apropriação disto por parte do seu staff, além de promover, ou tentar, um ponte entre os “Caras Pintadas” de 1992 com a manifestação atual. Outra ponta está no artigo da Glória Kalil – “Moda para protesto, roupas de guerra”- (what?!), isso demonstra um esforça da mídia em assumir o papel de liderança dos protestos, e nunca esquecendo que são empresas privadas nas mãos das mesmas famílias que apoiaram a Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, em 1964. Afirmo, minha satisfação em participar e viver tudo isso, mas tenho os pés no chão para não defender um discurso uníssono no qual o senso comum pode se misturar com o que deveria ser um discurso crítico e de esquerda. A preocupação está com o rumo que esse levante popular pode tomar e com a associação dele a um discurso midiático vazio.

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